O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA. Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais… mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?…
Carlos Drummond de Andrade
Confesso que demorei pra escrever minha história aqui. Já comentei várias vezes que minha história daria várias vidas de uma pessoa qualquer. Mas como diria a minha mãe: “você não é qualquer uma”.
Não sei bem por onde começar, se faço tópicos tipo power point, descrição tipo bula de remédio ou se faço uma ordem cronológica dos acontecimentos de minha vida, tipo um curriculum vitae, para que vocês leitores não se percam.
Peço que confiem em mim e leiam até o fim, se houver a barrinha embaixo dizendo continua, voltem aqui para ler outro dia pois a minha história é tão comprida e cheia de voltas que creio que terei uns meses ainda pela frente até conseguir transmitir ela de maneira satisfatória.
Vamos começar pelo básico para dar vida à personagem e vocês me conhecerem um pouco. Eu tenho 42 anos, sou natural de Curitiba no Paraná, Brasil. Casada e mãe de três meninos. Minha profissão de formação é a odontologia. Atualmente me dedico à área de desenvolvimento humano, paixão que sempre tive e que sempre aparecia entremeada aos anos de atendimentos aos meus pacientes. Muitas vezes era mais um ouvido atento a meus pacientes que mãos habilidosas.
Sempre fui muito empreendedora, meu primeiro negócio foi aos 12 anos. Fazia bijuterias para vender, atividade que exercia paralelamente ao colégio e que tinha de público alvo todas as colegas de trabalho de minha mãe, funcionária pública.
Como empreendida por necessidade, não por dom ou por uma super capacidade, aos quinze anos troquei de empreendimento: me tornei distribuidora de uma marca de cosméticos, título que ostentei por bravos quinze anos.
Aos 17 anos ingressei na faculdade de odontologia, me formei aos 22 e abri meu primeiro consultório em Londrina, Paraná. Para meu consultório, as habilidades de empreendedora aprendidas nos meus “negócios” anteriores me foram muito úteis e rapidamente consegui uma clientela interessante.
Aos 27 anos, conheci o amor da minha vida, um argentino que veio a passeio no Brasil, nos apaixonamos e começamos a namorar. Eu no Brasil e ele na Argentina. A distância era difícil, mas relativamente fácil de superar, afinal, a Argentina não era tão longe da minha cidade, eram “somente” 1200 km.
Quando meu atual marido, então namorado se formou, recebeu eufórico a promessa de um emprego no Brasil. Eu, contente, na esperança de uma diminuição na nossa distância, aceitei quando ele perguntou se eu queria ir morar com ele caso ele viesse ao Brasil. Apaixonada e esquecida das distâncias brasileiras, disse sim. Quando ele se formou conseguiu o tão sonhado emprego, só que eu não contava que seria mais longe ainda, no sertão do Piauí. E aí? O que fazer? Eu estava apaixonada, ele era o homem da minha vida. Mas eu tinha meu consultório, minha vida estabelecida em Londrina. Naquela época a Internet estava longe de ser como hoje e confesso que não tinha nem ideia de como era o sertão do Piauí, não havia muito como pesquisar.
Botei na balança, avaliei que se não desse certo conseguiria voltar à minha cidade de origem e reabrir meu consultório sem grandes dificuldades. Meu pai, na época recém transplantado do fígado, me disse pra ir que caso não desse certo eu sempre poderia voltar.
Graças à precariedade das informações sobre Canto do Buriti, no Piauí, eu fui. Fechei o consultório e caí na estrada, de ônibus, diga-se de passagem. Só digo uma coisa: se eu me casei com meu marido é porque o Google não era tão eficiente como é hoje.
Quando cheguei lá o choque cultural pra mim foi tremendo. Acostumada com cidades com saneamento básico, água e luz todos os dias, carne com refrigeração, viver lá, recém-casada foi um desafio imenso.
Com a mudança, minha primeira reinvenção se fez necessária, abri um consultório em Canto do Buriti o que foi um desafio imenso. Meu irmão me ajudou pois devido à precariedade do lugar, não existiam técnicos de equipamentos odontológicos. Montamos, então, o consultório nós mesmos. Fabricamos peças, armamos a instalação elétrica e a ligação de água e esgoto. Dentro de pouco tempo montamos o meu primeiro consultório fora da minha cidade natal. Como vocês podem ver na foto, estava longe de ser bonitinho, mas era limpo e bem arrumado o que para mim era o que importava.
continua….