Pessoas inspirando pessoas.
Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães.
Ditado Judaico
Silvia e Junior.
Quando passamos por momentos difíceis e o futuro parece incerto, o medo e a angústia tomam conta da nós e fica difícil enxergar um caminho. Como o meu propósito é inspirar pessoas através de pessoas, hoje conto uma história de uma amiga que certamente irá tocar o seu coração e levar esperança à sua vida.
Silvia é minha colega de profissão. Nos formamos juntas em odontologia pela Universidade Estadual de Londrina. Mesmo sendo colega de profissão ficamos anos sem nos falar, depois da faculdade ela foi morar no Maranhão e eu continuei por Londrina. Anos mais tarde, nos encontramos no Facebook. Naquela época ela já era mãe de duas meninas. Não lembro quanto tempo exatamente se passou quando vi em seu perfil que ela estava grávida novamente. Viria um temporão para alegrar a sua família, o Junior estava vindo. Lembro de pensar comigo, que delícia, um menino para alegrar a vida delas! Vi que o Junior crescia e a vida seguia e Silvia em seu consultório em Balsas ainda atuando como ortodontista.
Um dia a vida dela virou do avesso. Daqui para frente, quem conta a história é ela, uma história cheia de medo, de amor, fé e superação.
“ Tive que fazer repouso na gravidez do Junior, a partir do 3° mês, com risco de descolamento da placenta. E no 5° mês tive chikungunya, mas apesar disso tudo ele nasceu em 11/05/2016 super bem e com 3.300kg. Depois do nascimento, sempre fiz o acompanhamento com a pediatra em Balsas mesmo, ele nunca havia adoecido por nada, brincava e crescia como qualquer beê saudável.
Nós moramos em Balsas desde dez de 2001. Meus 3 filhos nasceram lá, Ana Luisa tem 17 anos e Isabella tem 15. Ele é nosso caçula serelepe. Sempre muito sadio e ativo
Por esse motivo achava que as primeiras manchas roxas em suas perninhas eram de quedas durante as brincadeiras. Apesar da babá estar sempre brincando com ele em casa, pensava que por ser menino, seria diferente das meninas, que menino cai, se machuca e continua brincando.
Ele tinha nessa época 2 anos e meio mais ou menos, foi quando notei que as manchas nas pernas ficaram mais frequentes. Mesmo assim achei que não era nada porque eram apenas manchas nas pernas, do joelho pra baixo. Depois começamos a notar que as manchas começaram a aparecer em mais partes do corpo e apareciam à menor batida, às vezes batidas bem leves em algum móvel da casa ou em algum brinquedo e notei que começaram a ficar com uma cor mais intensa.
Mas como ele estava sempre ativo e se alimentando normalmente, não achei que houvesse necessidade de levá-lo ao médico somente por causa das manchas, por isso o tempo foi passando e a consulta foi ficando para depois.
Foi somente em dez/ 2018 pra jan/2019 quando estávamos de férias em Londrina que começamos a nos preocupar de verdade porque ele começou a ficar sem apetie e o sono a ficar mais frequente, teve um dia que ele dormiu a tarde toda, coisa que ele nunca fez.
No retorno para Balsas, Junior tinha manchas roxas pelo corpo todo e elas estavam diferentes. Além do hematoma havia um caroço, um nódulo, no meio de cada mancha. Achei muito estranho. Vagner, meu marido, queria adiar nosso retorno e consultar ele em Londrina. Eu não quis porque sabia que teria que fazer exames e as aulas das meninas iriam começar naquela semana.
Apenas mandei uma mensagem pra Dra do Junior em Balsas e ela pediu para passar uma pomada e queria consultar ele assim que chegássemos. Em Balsas, a pediatra não tinha consulta para aquela semana então pedi a requisição para fazer o exame de sangue primeiro. Foi o pessoal do laboratório que ligou pra Dra e pediu para atender ele com urgência
Eu nem imaginava.
Ele ainda estava bem ativo.
Nessa consulta em Balsas que ela foi explicando as várias possibilidades e quais problemas aquele hemograma tinha. Tudo alterado, o que tinha que estar alto estava baixo e vice-versa. Plaquetas com a taxa bem baixa.
Não existe hematologista em Balsas, então ela sugeriu que nós viajássemos à procura de algum naquele mesmo dia.
Imaginem o nosso susto ouvindo tudo isso. Um bombardeio de informações.
Viajamos naquela mesma noite para Imperatriz, quase 300 km de estrada. A princípio pensei que fôssemos levá-lo somente para fazer mais exames e consultar com médico especialista. Saímos eu, Vagner, meu marido e Junior, de carona com o Claudemir, um amigo nosso.
Não imaginava que após passar 1 semana no hospital São Rafael, realizando vários exames de sangue diários, a maioria de madrugada, iríamos mais adiante.
Em Imperatriz foram feitos os exames de sangue e mielograma para diagnosticar. Pelos exames a Dra. já sabia que era leucemia, mas tinha que fazer o mielo para classificar o tipo de leucemia. E a oncologista sempre nos dizendo sobre a agressividade e rapidez da doença: Leucemia mielóide aguda.
Tínhamos que conseguir com urgência uma vaga para ele. Ali não teria como ficar. Pensem numa semana difícil e, para piorar, a oncologista não nos deu transferência ou encaminhamento porque ela queria tratar o Junior lá. Depois de muita conversa ela deu alta médica a pedido dos pais, ou seja, saímos do hospital por nossa conta.
O que ela fez de bom, foi que ela preparou o Junior para viagem. Naquela tarde ele recebeu transfusões de hemácias e plaquetas (ele já estava precisando) deu morfina para dor (nessa semana também ele começou a ter muitas dores ósseas e musculares nas pernas) e deu um antibiótico para durar 24 horas.
Foi o tempo de chegar no hospital em Barretos.
Hoje faz 1 ano que saímos de Balsas com o Junior. Foi aí que começou nossa jornada atrás de tratamento. Muita gente se mobilizou para conseguir vaga em Barretos ou Londrina.
No dia 15 de fevereiro de 2019 chegamos em S. José do Rio Preto, num vôo das 2 da manhã, depois fomos à Barretos.
Nessa primeira semana lá, mais furadas no bracinho dele de madrugada e mais exames p/ confirmar o diagnóstico: LMA M7 (leucemia mielóide aguda).
Era isso o que ouvíamos e tentávamos digerir.
Apesar das picadas no bracinho, depois do exame, ele ainda dizia obrigado, porque sabia que estavam cuidando dele.
Não foi fácil. Foram muitas lágrimas, muita oração e muita ajuda de pessoas que eu nem sabia de onde vinham. Confesso que demorou para cair a nossa ficha.
As meninas estavam em Balsas na casa do Claudemir (nosso amigo) e acabaram ficando lá por 2 meses, até conseguirmos trazê-las para Barretos, que dali para frente seria o nosso novo lar.
A primeira etapa do tratamento do Junior seria de quimioterapia. Foram vários ciclos, a cada 21 dias, mais ou menos, pois quando tinha febre ou outra intercorrência, não podia receber mais medicação o que atrasava de receber o próximo ciclo
Acesso central, acesso periférico, cateter, enfim, fomos nos acostumando, tanto os ouvidos quanto o cérebro a um novo vocabulário, um outro mundo literalmente.
O Hospital de Barretos é grande e atende milhares de pessoas todo mês, já tinha ouvido falar, mas quando se está lá, é uma realidade triste e confortadora ao mesmo tempo. Triste porque são muitas crianças e adolescentes carecas, magrinhos, amputados, cadeirantes, com sonda de alimentação. E outras tantas serelepes, correndo e brincando pelo Hospital de Amor.
É esse o nome do Hospital de Câncer de Barretos e é assim que sentimos quando lá chegamos e aos poucos fomos entendendo toda a situação, graças a paciência, respeito, carinho e dedicação dos profissionais de lá. Desde a recepção, a moça da limpeza, a da copa, os enfermeiros, técnicos e médicos.
Fomos nos sentindo bem cercados e muito bem atendidos pelo uso de tecnologia de ponta e pela atenção dada a nós e principalmente ao nosso pequeno.
E o que dizer do tio Mazinho, o moço da brinquedoteca: uma figura. E do Mingau, Garnizé e Rubi os palhaços da Alegria, criaturas sem igual.
Quando recebemos a notícia de que Junior precisaria de TMO (transplante de medula óssea) foi outro baque. Algumas das meninas poderiam ter a chance de ser doadora compatível, mas nenhuma foi nem ao menos eu ou o Vagner. Ter 50% de chance seria uma possibilidade, pois lá eles fazem TMO com essa probabilidade, porque têm tecnologia para isso, mas o melhor mesmo seria um doador 100% compatível.
E agora? Continuamos rezando e fizemos uma campanha para tentar agilizar o transplante.
Lembro da tarde de sexta, 28 de junho que a Dra. Anita me deu a dupla notícia, que tinha conseguido um doador 100% e uma vaga para realizar o transplante. Não poderia ser em melhor data: Sagrado Coração de Jesus. Naquela noite conseguimos ir à missa para agradecer. Nem sempre é possível ir à igreja quando se tem uma criança pra cuidar, Junior passava muitos dias internado para químio e pós químio.
Junior foi espaçando mais os dias que precisava ser internado e também começou a se alimentar melhor. Com isso foi se fortalecendo, por dentro e por fora.
Em setembro já estávamos aqui em SP. Internou dia 10 e fez o transplante de medula dia 19/09/19. Outra fase difícil do tratamento, com muitas reações, mas graças à Deus, Junior superou todas.
Esta fase já dura 6 meses, juntando com os 6 meses que ficamos em Barretos vencemos 1 ano!
Com Deus, Nossa Senhora e muitos Anjos ao nosso redor, anjos do Céu e da Terra. Não me atrevo a citar nomes pois foram muitos.
Desculpe ter me estendido mas quero agradecer mais do que pedir. Pedir apenas para continuar com saúde e ser forte para cuidar deles todos aqui em casa.
Obrigada, Deus!”
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Silvia Tenani, fevereiro de 2020.
Deixo aqui alguns links que podem e devem ser de público conhecimento para que todos nós possamos ajudar. Qualquer um de nós que estejamos com plena saúde pode ser doador de medula óssea. Um procedimento rápido e simples para o doador, mas que pode salvar muitas vidas. Deixo o site do REDOME que é o REGISTRO NACIONAL DE DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA . Convidos à todos a realizarem seu cadastro para doação voluntária de medula óssea e, caso você já seja doador, é importante acessar o mesmo link e manter os seus dados atualizados.
Outro link que deixo a vocês é o do Hospital de Câncer de Barretos: https://www.hcancerbarretos.com.br/. Em um mundo aonde deixamos de acreditar que boas ações existem, é importante mostrar as boas coisas de bons hospitais e bons profissionais fazem pelo nosso país afora, sem contar o nosso sistema único de saúde, o SUS, que sem ele estes tratamentos não poderiam ser realizados. No site, existe uma aba para doações e para que possamos conhecer um pouco mais dos projetos desenvolvidos no hospital.
Eu, do lado de cá da sua tela confesso que fiquei emocionada e muito feliz pela superação na vida de minha amiga, espero que as informações aqui presente possam te alertar com relação à sua saúde e de seus familiares, possam te confortar caso hoje seja um dia difícil para você e, sobretudo, possam mostrar que o mundo é feito de pessoas, que inspiram pessoas!